Estranhos Atratores

COVID-19 – A carne humana tem sabor de incompetência – Eduardo Kaze

Dias 11,12 e 13 (30-31/03; 01/04/2020)

Por Eduardo Kaze

O número de infectados tem dobrado a cada cinco dias. Isso apenas em dados oficiais; pelas ruas, a causa da morte ainda é apontada como miséria e falta de vontade. JB, a Besta, arquiteta na surdina um plano para salvação empresarial – não você, dono de loja no bairro, antes um trabalhador iludido pelo luxo que um capitalista especulador. Ao povo, o auxílio tarda – e se faz no engodo da cloroquina, não na garantia da dignidade.

Em O capital, Marx tem uma queda por casacos e linho. São esses dois produtos o exemplo mais corriqueiro no capítulo 1. E exposições matemáticas pululam por todos os lados, o que faz a exposição ficar confusa (muito, muito confusa). Então passemos por cima dos “X mercadorias A = y mercadorias B ou: X mercadorias A têm o valor de y”.

No ponto do texto em que estou, o mouro (apelido carinhoso dado a Marx pelas filhas) se empenha em explicar a mercadoria como valor-mercadoria.

Mas a pergunta primordial: o que dá valor a uma mercadoria? Marx responde: “o valor da mercadoria representa unicamente trabalho humano, dispêndio de trabalho humano”. E como já abordamos, conclui David Harvey: “isso é o que Marx chama de trabalho ‘abstrato’”.

Continua Harvey: “ele conceitua o valor em termos de unidades de trabalho abstrato simples”. Trabalho abstrato, como vimos, é a massa – a geleia, nas palavras marxianas – de trabalho, não o trabalho individual – ainda que o trabalho individual seja seu alicerce, não é de forma alguma seu fator de conversão em valor. E Harvey acrescenta:

“Marx defende […] que os aspectos abstratos (homogêneo) e concreto (heterogêneo) do trabalho são unificados no ato laboral unitário […] Isso significa que não só não pode haver incorporação de valor sem o trabalho concreto de confeccionar camisas, como também não podemos saber o que é valor a não ser que as camisas sejam trocadas por sapatos, maças, laranjas e assim por diante. Há, portanto, uma relação entre trabalho concreto e abstrato. É através da multiplicidade de trabalhos concretos que surge o padrão de medida do trabalho abstrato (grifo meu).

Ou seja, diz Harvey: “A mercadoria singular interioriza valores de uso, valores de troca e valores.”

Ao que Marx finaliza: “Todo trabalho é, por um lado, dispêndio de força humana de trabalho em sentido fisiológico e, graças a essa propriedade de trabalho humano igual ou abstrato, ele gera o valor das mercadorias. Por outro lado, todo trabalho é dispêndio de força humana de trabalho numa forma específica e, graças a essa propriedade de trabalho concreto e útil, ele produz valores de uso.”

Por hoje, é isso, camaradas. Até a próxima!