Estranhos Atratores

Ficar vivo é coisa de covarde – Eduardo Kaze

Dia 6 (25/03/2020)

Por Eduardo Kaze

“Ficar em casa é atitude de covarde”, vomitou JB, a Besta, ao curral de jornalistas do palácio. Adoradores da Besta gostaram, quiseram que o discurso de hoje houvesse sido o pronunciamento de ontem. Templos religiosos se tornaram, para JB, a Besta, serviços essenciais – mas pobre não entra porque o dízimo deve ser pago no cartão, em máquina ungida, digna somente de correntistas ativos no mercado. Aos demais, bebedouros bastam; banhos no chafariz são recomendados – uma vez ao dia. A distância de dois metro entre os indivíduos deve ser respeitada nos caixotes de meio metro. É indicada a boa alimentação para manter a imunidade. Olivier prepara cartilha contendo receitas de contingência: “pombos, um prato injustiçado…”

Para Marx, não é o trabalho concreto que dá propriedade à mercadoria, mas o trabalho abstrato em conjunto. Façamos uma recapitulação:

Marx começa examinando a forma mercadoria – para ele, a forma mais básica e elementar da riqueza da sociedade capitalista, onde tudo é produzido como mercadoria. A mercadoria é, em primeiro lugar, valor de uso. Porém, valor de uso não determina a forma mercadoria das coisas. Todo produto do trabalho possui valor de uso, todavia, nem todo produto do trabalho é mercadoria. Assim, valor de uso é apenas o suporte material do valor de troca.

Valor de troca é algo que só existe na relação entre duas mercadorias. Nada tem seu valor de troca em si mesmo: não se troca ovo por ovo – é necessária uma mercadoria, de categoria diferente, para determinar os valores de troca de ambas. Valor de troca é relacionado no mercado, portanto, de maneira quantitativa, mudando constantemente no tempo e no espaço, no processo de oferta e demanda.

Para se tornarem mercadorias, valor de uso e de troca necessitam, então, de uma terceira coisa com a qual se relacionem. Essa terceira coisa é o trabalho. Mas não qualquer trabalho (concreto). Não o do pedreiro, do açougueiro ou do arquiteto, mas de uma massa indiferenciada do trabalho – um dispêndio de energia humana enquanto tal, medido em forma genérica.

Trabalho abstrato é, em Marx, a forma social por meio da qual os trabalhos são igualados na sociedade capitalista, numa economia mercantil. Para o trabalho abstrato, tanto faz a técnica empregada. O incremento do trabalho concreto, do trabalho isolado, não influencia a magnitude do valor abstrato. Oito horas de trabalho abstrato valem oito horas independentemente do aumento ou queda de produção de um determinado período (e aqui não estamos falando de salário, mas de valor-trabalho na constituição da mercadoria).

Amanhã, seguimos daí, les rouges!

Eduardo Kaze

Redatoria Gonzo