Estranhos Atratores

Lethargy da Sky Down e a dança dos lírios partidos

Por Marcelo Mendez

Fotos: Fabio Zerbini 

Então tem disco novo na praça; A Sky Down lança Lethargy

E param por aqui as convenções preguiçosas dos comuns. Não se trata disso.

Lethargy não é apenas um disco, é antes de tudo um insulto. O disco novo da Sky Down é um ataque frontal contra as mesmices do destino posto, desses tempos calhordas, do que se romantiza como sendo amor quando na verdade é só um contrato de comunhão de neuroses, contra o que se tem como padrão do que é belo e de tudo que ta por ae, comodamente estabelecido como ‘formato”. Daqui pra frente, vamos louvar o brilho duvidoso das cores dos bares de balcão de fórmica, vamos criar odes ao que lindamente nos incomoda, vamos dançar sobre os lírios que a estupidez matou, como forma de eterniza-los. Vamos falar do Lethargy da Sky Down.

A banda mais foda dos escuros do Abc, vai beber com gim e vódica o juízo de vocês.

ROCK AND ROLL PARA RESSURREIÇÃO DOS LÍRIOS MORTOS

Os sons do vento gelado que circunda as noites de corações inquietos trazem para o mundo a abertura do disco com Sly. A primeira faixa do disco traz Amanda Buttler declamando um rockão intenso, acompanhada da bateria de Andre Arvore e pela guitarra de Caio Felipe. Perfeita novidade. Amanda tem a voz necessária não só para assumir os vocais de Lethargy, ela tem a voz desses tempos, tem a devida classe pra trazer elegância para o caos, para transformar o que é dark em poesia, para transformar o noise em verso. Amanda é a Cantora que traz Paul Verlaine pra tomar um porre num bar da Perimetral e fazer música.

O disco segue. Grandes momentos do Caos em estilingadas sonoras via Violet, Tonight, 7Seven, Warszawa e a belíssima Chrysalis me dão a sensação de que vivo um novo tempo com a banda. Esqueçam a onda de “Parece com o Stooges”, ou aquela de “Faixa tal parece post Punk…” acabou! Com Lethargy a Sky Down passa a viver as dores e a delícia de parecer consigo mesma, cria uma cara e passa a figurar como a banda a ser ouvida, não tenho dúvidas de que em 2023 o principal rolê a ser feito passa por ouvir Lethargy e aí o que posso dizer que os conceitos do que é agradável, tranquilo, ou prazeroso, para além da subjetividade, serão revistos por vocês ao ouvirem o disco.

Lethargy da Sky Down é a sinfonia tocada sob os lírios mortos que a estupidez desses tempos assassinou. É a rebelião da alma que entre sonhos decepados preferiu ser furiosa. Parem o que estão fazendo e ouçam a Sky Down, não é tempo do sono tranquilo dos comuns.

Lethargy, propõe a paz das guitarras que distorcem a mesmice, topem a trip meus caros. A onda é boa.

Ou quase…