Estranhos Atratores

Vampiro, Frankenstein, Jack The Ripper e a Noiva de Paranapiacaba se encontram no Ghost Story Challenger que acontecerá em outubro na vila ferroviária.

Por equipe Estranhos Atratores

Durante o verão perdido de 1816, o famoso poeta inglês romântico (e maldito) Lord Byron, autor de “Don Juan”, acostumado a promover saraus pela Europa, alugou uma mansão na Villa Diodati, em Genebra, na Suíça, e convidou alguns amigos, entre eles John Polidori, Mary Shelley e Percy Shelley para um final de semana de leituras, drogas, escrita e devassidão.

Debaixo de muita chuva, raios, trovões e frio, após três dias escrevendo estórias fantasmagóricas de terror gótico, o grupo deu ao mundo alguns dos livros mais influentes da literatura inglesa. Mary Shelley escreveu nada menos queFrankenstein”, considerado o livro inaugural da ficção científica e John Polidor escreveu “O Vampiro”, que daria origem à tradição dos mortos-vivos modernos, como o “Drácula”, de Bram Stoker, de 1895.

Passados dois séculos daquele ano sem verão, dezenas de escritores mundo afora repetem a fórmula da vigília literária criada por Byron, de maneira bem mais comportada, é verdade, e fomentam encontros literários cujo objetivo é produzir textos que tenham o gótico e o sobrenatural como prato principal e “otras cositas más” como sobremesa.

No Brasil, desde 2018, a Associação Brasileira dos Escritores de Romance Policial, Suspense e Terror (ABERST) promove um encontro de escrita similar ao famoso conclave inglês. O metiê, denominado Ghost Story Challenger (GSC), ocorrerá neste ano em outubro, na Vila Ferroviária de Paranapiacaba, em Santo André-SP, local mundialmente reconhecido por suas lendas ligadas a fantasmas e assombrações.

Tito Prates, presidente da associação e organizador do evento, conta que a iniciativa brasileira foi criada pela escritora Claudia Lemes (“Quando os Mortos Falam”, “Um Martini com o Diabo”, “Eu vejo Kate”) e que, logo em seguida, outras experiências similares se sucederam pelo país. A primeira edição foi em São Paulo, a segunda numa fazenda em Pedro de Toledo e a terceira, antes da pandemia, ocorreu no famoso Castelinho da rua Apa, na capital paulista, local que historicamente tem fama de mal-assombrado por causa de crimes que ocorreram no imóvel na década de 1930.

Levar à Paranapiacaba a tradição de escrita que criou Frankenstein e influenciou a construção do mito do conde da Transilvânia sempre foi um desejo de Jefferson Passos, membro da ABERST, que gora vai finalmente promover esse choque, esse encontro de lendas da cultura pop no alto da Serra do Mar. Por uma noite, todo um panteão de criaturas aterrorizantes como Jack, o estripador, A Noiva de Paranapiacaba, Drácula e Lobisomem, se encontrarão na vila ferroviária, pelo menos na imaginação dos cerca de 40 escritores de várias partes do Brasil que comparecerão ao desafio de escrever um conto assombrado em apenas uma noite.

Para aclimatar os convidados, o início dos trabalhos da 4ª edição do Ghost Story Challenger acontecerá com um tour macabro noturno, que percorrerá vários pontos históricos supostamente assombrados da vila inglesa. Paranapiacaba será apresentada aos participantes do evento pelo pesquisador especialista em lendas Jairo Costa, autor de vários artigos sobre o assunto e que também assina o mais importante livro sobre o tema: “Paranapiacaba Lendas e Mitos” (Editora Estranhos Atratores – 8ª edição).

Paranapiacaba, referência brasileira do terror    

Por Jairo Costa

A vocação de Paranapiacaba como cenário de excelentes histórias de mistério e terror vem desde o século passado. Em 1957, Geraldo Ferraz, marido de Pagu, publicou “Doramundo”, que conta a história de amor entre Dora e Raimundo em meio a vários crimes que assolam a vila ferroviária de Cordilheira, local explicitamente inspirado em Paranapiacaba. Mais tarde, nos anos 1970, “Doramundo” virou filme dirigido por João Batista de Andrade (de “Boias frias”, “O Homem que Virou Suco”, “Vlado, Trinta Anos Depois”) e roteirizado por Vladimir Herzorg (assassinado pela ditadura dentro das dependências do DOI-CODI em São Paulo, alguns anos antes do filme estrear). No elenco estavam grandes nomes do cinema, teatro e TV como Rolando Boldrin, Irene Ravache, Antônio Fagundes e Armando Bogus, entre outros. “Doramundo” ganhou o prêmio de melhor filme no festival de Gramado em 1978.

Paranapiacaba também serviu de cenário para boa parte dos filmes de José Mojica Marins, mundialmente conhecido como Zé do Caixão (“À Meia-Noite Levarei sua Alma”, “Esta Noite Encarnarei no teu Cadáver”). A própria série inspirada na vida de Zé do Caixão foi gravada em Paranapiacaba tendo como protagonista o ator Matheus Nachtergaele. Também foram gravadas novelas em Paranapiacaba, como “Drácula, uma História de Amor”, produzida pela Rede Tupi e escrita por Rubens Ewald Filho, que depois se tornou um famoso crítico de cinema. O elenco de Drácula contou com a participação de Rubens de Falco, Bruna Lombardi, Carlos Alberto Riccelli, Cleide Yáconis, Isabel Ribeiro, Paulo Goulart, Sandra Barsotti e Flávio Galvão nos papéis principais. Vários curtas de terror foram rodados na vila e mais recentemente a HBO, gigante norte-americana dos canais a cabo, realizou uma série para sua plataforma de streaming tendo Paranapiacaba como cenário.

Serviço

Ghost Story Challenger – GSC

21 de outubro de 2023

Vila de Paranapiacaba

Vagas esgotadas

Livro

Paranapiacaba Lendas e Mitos – Jairo Costa.

116 páginas. Formato Grande, ricamente ilustrado.

R$ 65,00 (Para comprar clique no link abaixo)

https://pag.ae/7ZvKt5pYH