Estranhos Atratores

Em defesa da cerveja artesanal – Por Daniel Tossato

Artesanais vieram pra ficar e incomodar as grandes do mercado bilionário de cerveja

Por Daniel Tossato*

A cerveja sempre esteve ligada à classe trabalhadora. Seja entre os operários dos portos ingleses no século XIX, seja entre os homens e mulheres que semeavam os campos de trigo na Mesopotâmia, berço histórico da bebida. Verdade é  que a cerveja foi pensada, inicialmente, para ser a bebida povo, da classe operária, já que aos burgueses estavam destinados os vinhos e licores caros.

O Brasil sempre figurou entre os cinco maiores fabricantes de cerveja do mundo, com estimativa de fabricação que chega aos 13 bilhões de litros por ano.  Desde 2009, porém, o País vem acompanhando o boom da cerveja artesanal, que ampliou o leque de escolha do consumidor dando opção para que se pudesse experimentar algo além da tradicional cerveja pilsen triste, pálida e desgastada, principalmente pelo desdém das grandes fabricantes, que nos entregam um produto de qualidade duvidosa.

De um dia para o outro, os mercados apresentaram gôndolas com IPAS, APAS, stouts, belgians, cervejas de trigo e demais palavras e estilos que ainda engatinham entre os bebedores de cerveja no País. Fato é que estas cervejas vieram para ficar, e mais, elas acabaram incomodando as grandes fabricantes da bebida, que se viram obrigadas a sair da zona de conforto e tentar produzir cervejas de qualidade, ainda que tenham que jogar sujo por isso.

Cerveja artesanal é cara, sim, sem dúvida. Mas isso se deve aos preços altos dos insumos básicos para a produção da bebida, que em sua grande maioria são importados. Lúpulos americanos, maltes alemães e levedura belga. Essa é a tríade que sentencia o preço da cerveja, infelizmente. Se seu amigo que faz cerveja nas panelas te vende uma IPA a R$ 20 reais, acredite, é bem capaz que ele ainda esteja saindo no prejuízo.

Outro fator que eleva o preço da cerveja artesanal é a maldita cultura de se colocar o produto nas gôndolas hipster e gourmet dos mercados. Só de estar ali, o produto ganha mais R$ 5 no preço final, porque sim. Absurdo. Isso afasta o consumidor (com certa razão) que arrasta seu velho carrinho de compras para as prateleiras das marcas convencionais, que enganam mais do que matam a sede e a vontade de se tomar uma boa cerveja.

Mais do que apenas uma bebida, a cerveja é aglutinador social. Nos bares ela está lá, unindo desconhecidos a falar de futebol, juntando ideias, ajudando no fluxo de ideias e de palavras nas rodas de conversa.

Apesar de ainda carecer de inúmeros ajustes (principalmente nos preços), a cerveja artesanal tem seu valor. Quando tiver oportunidade, compre uma cerveja artesanal. Apoie o amigo que se mata aos fins de semana para produzir aquela receita bacana que ele garimpou nos fóruns de debate cervejeiro. Além de tomar algo de extrema qualidade, você estará ajudando o mundo a se ver livre das amarras do capitalismo desenfreado das grandes corporações. Saúde!

Daniel Tossato, morador do IAPI, jornalista e aprendiz de cervejeiro.