Estranhos Atratores

COVID-19 – 2020: O Incrível Ano que Acabou em Março – Eduardo Kaze

Dia 1 de quarentena do jornalista Eduardo Kaze

O Brasil de 2020 começou agourando o de 2019 – aquele terrível ano no qual saíram das covas rasas os esqueletos acéfalos de neoliberais aposentados eleitores de JB, a Besta. Esses zumbis de classe média, ao lamber as botas dos militares e enrolarem-se demasiado em gravatas corporativas – de sonhos pasteurizados da alforria do trabalho -, esses mortos-vivos, eis que se depararam antes do raiar do outono com uma grave epidemia que ultrapassou o poder de contágio de suas ignorâncias inflamadas. E a Terra plana, girando, trouxe aos Olavos e Constantinos a amargura da descoberta: elegeram o pior dos mundos, o do vírus disseminado pelo líder, incapaz de ajeitar-se sob a própria máscara e, infectado, infectando a todos. Nasceu, assim, a clausura, a quarentena, o estado de sítio – dos culpados e inocentes -, nos quatro cantos da Ilha de Páscoa contemporânea, mais colônia do que nunca.

Dia 1 (20/03/2020):

Sou jornalista e estou trabalhando em casa. O trabalho de editar um telejornal de maneira remota se alternou, em meu caso, entre momentos de completo ócio e atividade alucinada – que se intensifica antes de entrar no ar e, promete, na próxima segunda-feira (onde 100% da operação será online), mostrar-se caótico. Os momentos de ociosidade, entretanto, são mais prazerosos, e passei a dedica-los a leitura d´O Capital, de Karl Marx. O estudo é amparado pelo livro do geógrafo britânico, David Harvey, Para entender O capital – Livro 1. Estabelece-se, no primeiro momento, A Mercadoria como introdução ao conceito de Marx – em sua inacabada empreitada – em desvelar o modo de produção capitalista.

Acrescentando correções a economistas clássicos, Marx coloca que o fundamento do valor, de todas as mercadorias, se deve não apenas ao tempo de trabalho empregado em sua confecção. Mais que isso, é o tempo de trabalho SOCIAL o determinante do valor.

Ok, vamos por partes, pois mesmo o valor tem ao menos três variações na teoria marxiana: valor de uso, valor de troca, e valor – e tudo está pouco claro em minha leitura ainda. Harvey já me alertara, em sua introdução, das dificuldades dos capítulos iniciais d´O Capital. O método dialético – oposto ao hegeliano – de Marx causa isso. Falha? De forma alguma: somente sob tal método se torna possível expor algo em movimento – em movimento social – como o capitalismo.

Definição de Tempo de trabalho social é também algo que, agora, com os livros distantes a uma levantada de cadeira no momento crucial de fechamento do jornal (18h15), está um tanto nublado na minha cabeça (estava antes também, mas vou culpar o trabalho, Marx perdoa). Espero, ao fim da edição do Seu Jornal, da Rede TVT, às 19h45, ser capaz de acrescentar alguns grifos esclarecedores das questões.

(Se você leu essas linhas significa que deixei a tarefa pra depois. É sexta-feira, tenho cinco Castellanis no congelador e meia garrafa de uísque. Hasta lá)

Eduardo KazeRedatoria Gonzo