Estranhos Atratores

COVID-19 – Jornalismo é a arte de escrever ao redor de anúncios – Eduardo Kaze

Quarentena, dia 4 (23/03/2020).

Por Eduardo Kaze.

JB, a Besta, usou o mais antigo dos truques: ameaçou 20 chibatadas no lombo do trabalhador, voltou atrás e decretou apenas 15 – E toda a terra, maravilhada, seguia a besta. O vírus, alcunhado por JB, a Besta, como gripe leve, vitimou 34 e quase 2 mil estão infectados no Brasil. Para salvar a economia, nada se fala em taxar grandes fortunas. Para JB, a Besta, quem deve pagar pela crise está sujo de graxa e suor, não de caviar e bronzeador.

Dia 4 (23/03/2020)

Quando há 15 anos trabalhava num jornal impresso, já se falava mal de entrevistas ao telefone. A impessoalidade trazia, consigo, a perda de nuances importantes para a história que se contava. Acontece – e não demorou, estava até adiantado o processo – que pouca história se conta – e contava – no jornalismo. Manchetes são reproduzidas e escolhe-se o veículo. O conteúdo, é sempre o mesmo – uma linha diferente aqui, outra acolá… e só!

Hoje, na TVT, realizamos, pela primeira vez, uma edição de telejornal 100% online. Cada um em suas casas. O editor de texto, o de vídeo, o pauteiro, a âncora, os repórteres… Todos praticando o jornalismo do alto da masmorra residencial.  Não precisa dizer que o resultado não chegou perto da qualidade cotidiana de nosso trabalho. Mas, como disse Darwin, quem não se adapta é extinto – talvez sejamos os últimos dinossauros carnívoros, nos alimentando das carcaças caídas, convertidos em carniceiros… e a grande nuvem que sufoca o sol, hei de nos derrotar também.

O jornalismo não para – e isso não tem a ver com o compromisso social mas, antes, com o mercado. Sim, jornalismo é mercadoria! No mundo capitalista, todo produto do trabalho útil é convertido em mercadoria.

E assim, voltamos a Marx.

Tratamos superficialmente, neste diário, sobre a mercadoria. Mas o que é – ou pode ser –, de fato mercadoria na economia capitalista?

Já sabemos que, para ser mercadoria, uma coisa precisa ser passível de permuta – tem que servir para Outros e, assim, poder ser trocada. Porém, como bem colocou David Harvey, “não se pode dissecar uma mercadoria e encontrar nela aquele elemento que a torna intercambiável”. Do que se trata então?

Composta de valor de uso – que é sua utilidade prática – e valor de troca – que é quase um elemento fantasmagórico, observável apenas na relação com outras mercadorias que, por sua vez, devem também serem valores de uso… – composta de valor de uso e valor de troca, a mercadoria necessita ter, ainda, um terceiro elemento, redutível aos outros dois (valores de uso e troca) para poder ser intercambiável num mercado capitalista – isto é, para subsumir valor de uso e valor de troca a uma grandeza de Valor que represente ambas e, além disso, a si mesma.

Virje maria, crê em deus pai…

Ok, tá complicado, mas vamos entender. O que é esse elemento comum, que agrega valor de uso valor de troca, tornando-se uma terceira categoria? Esse elemento comum “não pode ser uma propriedade geométrica, física, química ou qualquer outra propriedade natural das mercadorias”, argumenta Marx. Tem de ser outra coisa. Para além do valor de uso, um produto se torna mercadoria e realiza valor de troca apenas quando, na equação, se impõe uma nova propriedade: “a de serem produtos do trabalho” – afirmam a maioria dos economistas.

Mas não pode ser qualquer trabalho. Marx se pergunta: “que tipo de trabalho humano é incorporado nas mercadorias?” Não pode ser, simplesmente, o tempo empregado no trabalho o responsável por converter em Valor a uma mercadoria – ou algo teria tanto mais valor, quanto mais tempo o preguiçoso levasse para produzi-lo.

Assim, para Marx, é necessário levar em consideração o trabalho em geral, não isolado. “Todas as mercadorias são reduzidas a trabalho humano igual”. Ao que ele chama de trabalho abstrato.

E trabalho abstrato fica pra amanhã, fellas.

Go Red´s, go…

Eduardo Kaze

Redatoria Gonzo