Estranhos Atratores

SKY DOWN, a banda de rock que rasga o outono andreense – Marcelo Mendez

Por Marcelo Mendez

Foto: Thais Silvestre

E vou-me ao vento/

que, num tormento/

me transporta/de cá p’ra lá/

como faz à/folha morta.

Pois é…

Se eu fosse o Paul Verlaine, eu talvez falasse da chegada do outono na noite Andreense como ele fez em sua “Canção de Outono”, mas não vai rolar.

Eu sou tão somente um jornalista ávido por noticias de uma noite particular, de um universo incerto, pagão e insólito onde habitam uns poucos bons que sabem das delicias idiossincráticas, de uns paraísos que embora artificiais, bem servem para dar alguma alegria.

No caminho para o show, a garoa fina, cortante, que molha meu rosto no escuro dos becos da cidade me remete a uma poesia diferente daquela que é conhecida pelo que se tem ae como tal, assim como as canções que saúdam a chegada do Outono são bem outras além dessa celebrada pelo brilhante Verlaine.

Afinal, aqui é Abcd.

O canto que vem pra fechar o verão é forte, cortante, pulsante, nervoso e meu Paul Verlaine, na verdade se chama Caio. Ele toca guitarra e canta em uma banda de rock que vocês irão conhecer agora…

Sky Down e o Rock do Paul Verlaine possível

Caio Felipe, o vocalista, chega para tocar.

Em silêncio, sem muito alarde, de gestos curtos e uma fleuma de dândi. Pouco se ouve dele, quase não se conhece a sua voz. O moço do Sky Down é econômico em expansividades e outros melindres efusivos. Liga sua guitarra, ajeita o microfone, olha para Amanda Butller no baixo, para André Arvore na bateria e começa.

Agora sim, todos sabem de Caio e do Sky Down!

Formado em 2011, o Sky Down é basicamente um Power trio de rock.  Vindo da boa fonte do punk rock garageiro da segunda metade dos anos 70, contando com a voz limpa e linda de Caio, a banda enche o palco com uma parede sonora composta por uma chicotada de riffs , bateria pesada e baixo em fúria, como manda a boa receita do bom e velho e sempre atual rock and roll

Musicas como “Wish”, “Low”, “Forget” e a seminal “Nowhere” me remetem a um tempo muito bom, uma época em que três acordes me purificavam a alma, de quando eu não precisava me preocupar com a forma, com a aparência de absolutamente nada que não fosse o prazer de ouvir uma boa banda de rock.

“Galera ta mais preocupada em como tocar no festival tal, likes ou em bombar de views no youtube. É só casca, não tem recheio… Sei que tem coisas legais rolando no ABC de uns anos pra cá, isso é fato, quem sai de casa sabe que alguma coisa esta acontecendo. Mas o Sky Down é meio despreocupado com isso de cena, nem sei onde a gente se encaixa e tem outras bandas que também estão mais nesse caminho.” – Me conta Caio Felipe. Também gosto do caminho que eles seguem.

Em meio a um mar de mesmices que pipocam no pior Brasil possível pra se sobreviver, ver a fúria santa de três jovens, que se juntam para cometer o rock sem pensar em parecer qualquer outra baboseira, enche meu peito de alegria. Saio feliz do 74 club.

Após ver o Sky Down em ação, a garoa fina da hora de ir embora nem me incomoda mais tanto.

E eu nem sou o Paul Verlaine…

Saibam mais – https://sky-down.bandcamp.com/

Confiram